A edição especial do Crea Capacita, realizada na última quinta-feira (05/09), na Sede Angélica, abordou um tema que tem preocupado toda a população nas últimas semanas: as queimadas que vêm atingindo o Brasil. O Agro em Função: Fórum de Redução de Desastres e Prevenção e Combate a Incêndios reuniu especialistas para apresentar dados sobre incêndios florestais e destacar informações essenciais, além de diversas soluções para mitigar e prevenir as queimadas, como o uso de inteligência artificial, monitoramento, câmeras que identificam pontos de fumaça e os aceiros.
“De acordo com os dados do Centro de Gerenciamento de Emergência Climática da Defesa Civil (CGE), cerca de 48 municípios de São Paulo estão em alerta máximo para as queimadas. Mais de 80% dos focos de calor estão concentrados em áreas de cultivo agrícola, gerando um prejuízo de mais de R$1 bilhão para o agronegócio. Precisamos cuidar e olhar com atenção para o meio ambiente”, disse a Eng. Agr. Marília Gregolin, diretora técnica do Crea-SP, logo na abertura do evento.
Agosto foi considerado o pior mês de queimadas desde 2010, registrando mais de 68 mil casos de incêndios por todo o país, principalmente nas regiões Norte e Sudeste. De acordo com o pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, o Eng. Agr. Alberto Bernardi: “estamos vivendo o que chamamos de emergência climática, e uma das previsões é que os eventos extremos se tornariam cada vez mais frequentes e as secas prolongadas. É exatamente isso que estamos presenciando”.
O professor das Faculdades Integradas Maria Imaculada (FIMI) e especialista de Políticas Públicas ligadas à extensão rural e conservação de recursos naturais na Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), Eng. Agr., Antoniane Arantes concordou e reiterou: “o que nossos números mostram é que o aumento de 1,5ºC a 2ºC já é uma realidade em São Paulo. Em relação ao regime de chuvas, o que mudou foi o volume. O que esperávamos em um mês, agora vem em um dia, e isso é muito impactante”, destacou.
Para o professor de Gestão de Agronegócios na Fundação Instituto de Administração (FIA), o Eng. Agr. Rafael Kalaki, a primeira coisa que devemos pensar é na prevenção, e um dos principais fatores é a conscientização. É fundamental orientar os produtores e a população, mostrando a importância de evitar a propagação do fogo. “Temos que seguir essa linha de educação e, claro, sem esquecer das estratégias técnicas, como os planos de prevenção, identificação de áreas mais secas e monitoramento do clima”, pontuou.
A tecnologia é, sem dúvida, uma das maiores aliadas no controle, combate e prevenção de incêndios. Os especialistas destacaram alguns recursos que auxiliam nesse momento, como o uso de redes sociais para expandir as notícias e alertar a população, além de acompanhamento com imagens de satélite, torres de controle e redes de comunicação.
Em contrapartida, o uso da tecnologia pode apresentar desafios. A internet foi mencionada como um dos pontos que precisam de melhorias, e o quanto é urgente garantir conectividade para preparar a população para lidar com adversidades naturais, como geadas, incêndios e outros fatores. “Cerca de 70% das propriedades rurais não têm rede de conexão, mesmo em um estado tão desenvolvido como São Paulo. A necessidade de uma comunicação eficiente e funcional para todos ficou muito clara”, acrescentou Bernardi.
Mesmo com todas essas alternativas, a participação da comunidade e de órgãos especializados é indispensável. O diretor de serviço do Programa Estadual de Uso, Conservação e Preservação do Solo Agrícola, o Eng. Agr. Reginaldo Souza reforçou essa ideia: “não podemos esquecer o envolvimento de toda a população e das prefeituras, que têm mais contato com os trabalhadores de usinas, por exemplo. As condições climáticas realmente mudaram e precisamos ficar atentos”.
Diante de uma queimada, as prioridades precisam ser definidas em um curto espaço de tempo. Os especialistas enfatizaram que a segurança da população sempre deve ser priorizada. Mesmo com as dificuldades climáticas, os processos no Brasil são considerados eficazes. “Já presenciei fogo em outros países, como na Itália, com condições muito parecidas com as do Brasil, altas temperaturas, baixa umidade e muita dificuldade no combate. Posso afirmar que nós somos muito eficientes, principalmente no estado de São Paulo”, enfatizou o Eng. Gustavo Tognin, coordenador Corporativo da Raízen.
Após um incêndio florestal, surge a preocupação de como recuperar o que foi atingido, como o solo. Para a extensionista rural do Departamento de Sustentabilidade Agroambiental da da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA) e inspetora especial do Crea-SP em Piquerobi, Eng. Agr. Maria Regina Vieira da Rocha Romeiro, mediadora do debate, as áreas de vegetação nativa também precisam de atenção no momento da reabilitação. “O plantio de mudas ou regenerantes naturais, por exemplo, necessita de um solo adequado. A vegetação nativa tem todo um conjunto ecológico a ser recuperado, e começar pelo solo é importante”, completou.
No final do evento, Arantes afirmou que os fenômenos meteorológicos que estão ocorrendo ajudam a criar uma condição propícia para que esses incêndios aconteçam, e estamos vivenciando isso de forma intensa agora. “O resultado é o impacto direto em todo o nosso sistema, seja na saúde das pessoas, no meio ambiente, nos serviços públicos, no setor elétrico ou agropecuário. Por isso, é importante desenvolver espaços de debate como esse”, finalizou.
Fonte: Assessoria de Comunicação CREA/SP