Engenharia

Primeira edição do Talks é para elas

Nova capacitação do Crea-SP foi inaugurada pelo Programa Mulher

“Eu vivia em estado de alerta constante e comecei a me sentir extremamente cansada. Não conseguia desligar. Perdi minha vida social, passei a ter dores no corpo e minha imunidade caiu. Eu estava literalmente à beira de um burnout”. A fala da Eng. Agr. Mary Ellen Melo pode assustar a princípio, sobretudo aquelas pessoas que se veem na mesma situação. A intenção, no entanto, não é provocar medo e sim mostrar que existem alguns cuidados que são tão necessários para o bem-estar e para a qualidade de vida quanto o desenvolvimento e a realização profissional.

A mensagem ganhou destaque por fazer parte de uma ocasião diferente. Já que, pela primeira vez em formato totalmente dedicado, o Crea-SP apresentou uma iniciativa de capacitação para além das questões técnicas e de aprimoramento contínuo. O novo programa, que recebeu o nome de Talks, foi idealizado para receber palestras curtas e multidisciplinares com foco em impacto social positivo.

A edição inaugural foi protagonizada nessa quinta-feira (26/09) pelo Comitê Gestor do Programa Mulher, que reuniu quatro especialistas convidadas para tratar de comunicação não verbal, saúde feminina, confiança e comportamento, e segurança no ambiente de trabalho. “Para este encontro de fortalecimento das mulheres em diversos aspectos, hoje, o nosso objetivo é criar um espaço de acolhimento, aprendizado e muita troca, onde, juntas, vamos refletir e debater temas que impactam diretamente as nossas vidas”, deu início a Eng. Nauany Xavier, integrante do Comitê Gestor e anfitriã da noite.

A engenheira Mary Ellen, mencionada no início desta reportagem, era uma das painelistas do evento. Ela esteve acompanhada ainda da Tecg. em Design de Interiores, Silvia Beraldo, especialista em comunicação, imagem e comportamento; da médica ginecologista Luana Ariadne Ferreira Zanchetta Souza; e da advogada trabalhista Mariana Leal.

Como primeira presidente mulher eleita ao Conselho, a Eng. Lígia Mackey deixou um recado, mencionando a importância da colaboração da autarquia com o Programa Mulher. “Cada vez mais, o Comitê Gestor e o Crea-SP vêm valorizando as nossas profissões e tornando nossas rotinas mais leves, investindo em novas lideranças e aprendizados”, argumentou.

Questões de saúde íntima, mental e física foram abordadas de forma conjunta, compondo as frentes de cuidado que merecem a autodedicação das mulheres, sejam elas da área tecnológica ou não, e em todas as faixas etárias. “Muito se engana quem pensa que a saúde da mulher é baseada em coletar o papanicolau e fazer a mamografia. Costumo falar para as minhas pacientes que, a partir da primeira menstruação, o seu ou a sua ginecologista vai te acompanhar em todas as fases”, disse a médica Luana Ariadne.

A apresentação dela mostrou que são as ações integrativas que resultam em bem-estar e saúde e que profissionais da Ginecologia devem estar aptos para receber pacientes com um olhar para o todo. Utilizando esse critério, segundo Luana, é possível atuar preventivamente.

A Eng. Renata Ayres Rocha, professora de Engenharia de Materiais na UFABC, acompanhou tudo da plateia. “Vejo que alguns cursos ainda têm uma diferença maior entre a presença de homens e mulheres. As meninas têm receio de partir para essas carreiras. Temos que mostrar pra elas que é possível. Esse tipo de evento contribui para fomentar novos pontos de vista e para que nós, professores, saibamos como trabalhar com isso”, defendeu.

Já para o matemático e Eng. Fernando Cordeiro, um dos poucos homens presentes, a troca de conhecimento é válida para ambos os gêneros. “Recebi o e-mail com a programação e, como trabalho em um escritório onde 90% da equipe são mulheres, pensei em vir. Gostei muito, principalmente das falas sobre transição de carreira”, apontou.

Manter espaços corporativos saudáveis e seguros é uma missão de todas as profissões, empresas e colaboradores. “Recentemente, em uma pesquisa do Instituto Patrícia Falcão, foi revelado que 65% das mulheres já tinham passado por alguma discriminação ou no assédio”, alertou Mariana Leal.

“A finalidade da nossa constituição é que consigamos viver em harmonia em uma sociedade livre, justa e solidária. Mas, e na prática, como posso ser solidária? Um dos jeitos é este, construir a solidariedade de forma conjunta, como estamos fazendo aqui, conversando com mulheres incríveis, nos fortalecendo e nos empoderando”, indicou a advogada. Ela, que trata diariamente de casos como os da pesquisa que relatou, confirma que é necessário um grande engajamento para vencer esses desafios.

Até porque são as situações experienciadas que influenciam as reações e os comportamentos de cada pessoa, podendo ter efeitos positivos e negativos. “Nosso cérebro é moldado pelos ambientes e pelas nossas vivências. Isso em toda a nossa vida. Então devemos sempre perguntar quais são a sensação e a emoção sentidas em certos momentos e a origem dos nossos comportamentos diante disso”, complementou a Eng. Agr. Mary Ellen Melo.

Para mudar isso, as painelistas concordam que o passo a ser dado deve ser de autenticidade. “Há um magnetismo disso. Quando você olha uma pessoa autêntica, você quer estar junto a ela. Desafiar as crenças limitantes que colocamos para nós é um meio, porque, quando você se reconhece, assume e honra tudo o que você é, você passa a ser autêntica e ter mais confiança”, finalizou Silvia Beraldo.

Fonte: Assessoria de Comunicação CREA/SP

 

 

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